Varada Cultural

O reality de Obama: ex-presidente transita por profissões em nova série

Em um mercado, no interior do estado do Mississipi, o ex-presidente Barack Obama faz compras com Randi, uma jovem mãe solo que trabalha como cuidadora. Apesar de estar diante de um dos homens mais poderosos do mundo, ali, a autoridade é ela. Randi sabe bem o que vai ou não comprar, pois seu orçamento é bastante apertado. Ela aponta para uma caixa de cereais que custa 6,15 dólares e explica a razão daquele preço ser absurdo: “Isso é quase uma hora do meu trabalho”. Pouco antes, já havia perguntado se Obama gostaria de jantar com sua família: o cardápio era moela ou fígado. O choque de realidades está no primeiro episódio da minissérie documental Trabalho, que chega à Netflix nesta quarta, 17. 

Produzida e narrada por Obama, que por vezes é também um personagem ativo em cena, o programa em quatro episódios explora os meandros do mercado de trabalho americano em um formato similar ao realizado nos anos 1970 pelo historiador e escritor Studs Terkel (1912-2008). No livro Working (título original da série de Obama em inglês), Terkel se dispôs a ouvir mais de cem profissionais de áreas e classes sociais variadas, com o intuito de saber como eles se relacionavam com suas ocupações. Na época, a força de trabalho americana residia especialmente nas fábricas e em trabalhos manuais repetitivos, enquanto a mentalidade predominante era pagar as contas em detrimento do senso de propósito – um cenário que se inverteu hoje. 

A série de Obama segue três áreas distintas, desde sua base até o topo. O primeiro episódio acompanha prestadores de serviços, funções tidas como invisíveis, caso de faxineiros, cozinheiros, entregadores de aplicativo, cuidadores, entre outros que compõem uma vasta mão de obra, com vagas abundantes, alta rotatividade e salários baixos. Acima, está a classe média, que representa a maior parte da população americana. Muitos degraus depois estão os chefes e donos de empresas. Entre estas duas últimas camadas estão os chamados 9% – completando a soma dos 90% que compõem a base da sociedade e o 1% dos mais ricos. Obama classifica esta camada como os que possuem o emprego dos sonhos – ou pelo menos o trabalho que um dia sonharam ter. São em sua maioria profissionais intelectuais, que fazem trabalhos ainda não ameaçados pela inteligência artificial, caso de advogados, políticos, lobistas, comunicadores e gestores de tecnologia. De uma ponta à outra, o combustível que move estes indivíduos é um só: a realização pessoal – desejo que faz da labuta cotidiana um fardo ou uma fonte de felicidade.

Fonte: https://veja.abril.com.br/coluna/tela-plana/o-reality-de-obama-ex-presidente-transita-por-profissoes-em-nova-serie/