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Uma nova moeda de referência ampliará o comércio do Mercosul, diz Lula a Fernandes

“A Argentina é o terceiro destino de nossas exportações, enquanto o Brasil é o principal mercado para os produtos argentinos”, destacou o presidente brasileiro ao defender maior integração econômica e intercâmbio comercial entre os dois países

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o presidente da Argentina, Alberto Fernández, nesta segunda-feira, (26), em Brasília. A visita de Estado tem como principal tema a comemoração dos 200 anos das relações diplomáticas entre os dois países, firmadas em 1823, após a independência do Brasil.

“Completamos 200 anos de relações diplomáticas com a Argentina. A construção de laços de confiança e da integração entre nossos países foi tarefa de gerações. Lideramos o processo de criação do Mercosul, que uniu os destinos dos países do Cone Sul e que criou as bases para lançarmos um projeto ambicioso de integração da América do Sul”, lembrou Lula.

Depois de saudar as iniciativas de José Sarney e Raul Alfonsin, iniciadores do Mercosul, Lula falou sobre investimentos em infraestrutura e destacou a importância da retomada de uma parceria mais profunda com o país vizinho. “É muito importante que Brasil e Argentina estejam coesos na iniciativa de reconstrução da unidade política sul-americana”, declarou.

Lula voltou a defender um moeda de referência entre os países da região para ampliar as trocas comerciais do Mercosul. “Precisamos avançar nessa direção, com novas e criativas soluções que permitam maior integração financeira e facilitem nossas trocas. Entre as opções está a adoção de uma moeda de referência específica para o comércio regional que não eliminará as respectivas moedas nacionais”, apontou o líder brasileiro.

Assista a solenidade

Lula citou que há potencial entre as duas nações para um crescimento expressivo nas relações comerciais. “A Argentina é o terceiro destino de nossas exportações, enquanto o Brasil é o principal mercado para os produtos argentinos”, destacou o presidente do Brasil.

“Nosso intercâmbio comercial pode superar a cifra de 40 bilhões de dólares que atingimos em 2011. Construímos uma relação baseada na troca de bens de alto valor agregado e na integração produtiva de nossas economias. Nossos investimentos recíprocos são responsáveis por quase cem mil empregos”, afirmou o presidente Lula.

Fernández agradeceu o discurso do presidente Lula durante a Cúpula por um Novo Pacto de Financiamento Global em Paris, na semana passada, e os esforços do brasileiro para ajudar o país vizinho. “Vi o que você falou em Paris sobre a relação do FMI com a Argentina, e agradeço sua assinatura na carta enviada ao Joe Biden (presidente dos Estados Unidos), que ajudou a mobilizar os demais líderes da América Latina”.

O presidente argentino também contou sobre os avanços na construção do gasoduto Néstor Kirchner em seu país. A obra conta com financiamento do BNDES para a exportação de produtos brasileiros que auxiliam na construção do gasoduto. Na semana passada, o primeiro trecho do projeto entrou em operação.

A integração econômica bilateral fortalece a economia e a indústria dos dois países. O capital brasileiro está presente em diversos setores da economia argentina, como siderúrgico, petrolífero, bancário, automotivo, têxtil, calçadista, de máquinas agrícolas, de mineração e de construção civil.

Em 2022, o volume de comércio entre Brasil e Argentina foi de US$ 28,4 bilhões, dos quais as exportações brasileiras para o país vizinho responderam por US$ 15,3 bilhões e as importações de produtos argentinos foram da ordem de US$ 13,1 bilhões. A Argentina ficou em terceiro no ranking mundial de parceiros do Brasil tanto em exportações quanto importações, e primeiro na América do Sul.

Esta é a quarta visita de Alberto Fernández ao Brasil este ano. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, o presidente argentino veio a convite de Lula, e a intenção é celebrar os 200 anos de relações diplomáticas entre os países.

Na cerimônia no Palácio do Itamaraty, Fernández e a primeira-dama argentina, Fabíola Yañez, receberam as medalhas da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul e a Ordem de Rio Branco. Na agenda do presidente argentino, também estão previstos para esta segunda-feira (26) encontros com a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Rosa Weber, e com o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Discurso de Lula na íntegra

Discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por ocasião dos 200 anos de relações diplomáticas entre Brasil e Argentina

Que alegria poder celebrar essa data tão importante, ao lado do meu amigo Alberto Fernández, sua esposa Fabíola Yañez e comitiva.

Ao condecorá-los com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul e a Ordem de Rio Branco, prestamos justas homenagens a um casal de amigos do Brasil.

Ambos são representantes de uma nação pela qual nós brasileiros temos respeito e afeto e que nos honram nesta data tão especial.

Este não é apenas mais um encontro.

Completamos 200 anos de relações diplomáticas.

As então Províncias Unidas do Prata foram, na prática, o primeiro estado a reconhecer o Brasil.

Em 25 de junho de 1823, o líder argentino Bernardino Rivadavia celebrou a independência do Brasil e credenciou um enviado oficial para tratar pessoalmente com o Imperador Pedro I.

A construção de laços de confiança e da integração entre nossos países foi tarefa de gerações.

Homenageio aqui o Presidente José Sarney e a memória do Presidente Raúl Alfonsín.

Estávamos acordando depois de uma longa noite autoritária e, ao mesmo tempo, enfrentávamos uma das mais severas crises econômicas de nossas histórias.

Sarney e Alfonsín tiveram, então, a visão e a coragem de sepultar desconfianças históricas e plantar as sementes de nossa Aliança Estratégica.

Juntos provamos que é possível cooperar até mesmo em um dos setores mais sensíveis, o nuclear.

Construímos um patrimônio de confiança, ao abrigo da Agência de Cooperação e de Controle de Materiais Nucleares (ABACC) que é exemplo para o mundo.

Lideramos o processo de criação do Mercosul, que uniu os destinos dos países do Cone Sul e que criou as bases para lançarmos um projeto ambicioso de integração da América do Sul.

Ao retomar esse projeto de integração com os demais presidentes sul-americanos em maio passado, honramos também a memória de outro grande nome da nossa história compartilhada: o querido presidente Néstor Kirchner, que foi o primeiro secretário-geral da UNASUL.

Caro Alberto,

Reafirmamos hoje que a integração é uma política de Estado e que nossa parceria deve ser cultivada no mais alto nível.

Minha primeira viagem internacional no presente mandato foi a Buenos Aires e nossos frequentes encontros deixam evidente a importância que damos à Aliança Estratégica entre nossos países.

Compartilhamos valores indispensáveis no mundo de hoje. Temos compromisso com a democracia e os direitos humanos, com a erradicação da fome e da pobreza e com o desenvolvimento sustentável.

No plano internacional, somos parceiros na criação de uma ordem multipolar e de um multilateralismo mais representativo e eficaz.

Defendemos o Atlântico Sul como zona de paz e cooperação, sem disputas de natureza geopolítica.

Nossa integração econômica significa interdependência.

A Argentina é o terceiro destino de nossas exportações, enquanto o Brasil é o principal mercado para os produtos argentinos.

Nosso intercâmbio comercial pode superar a cifra de 40 bilhões de dólares que atingimos em 2011.

Construímos uma relação baseada na troca de bens de alto valor agregado e na integração produtiva de nossas economias.

Nossos investimentos recíprocos são responsáveis por quase cem mil empregos.

Precisamos avançar nessa direção, com novas e criativas soluções que permitam maior integração financeira e facilitem nossas trocas. Entre as opções está a adoção de uma moeda de referência específica para o comércio regional que não eliminará as respectivas moedas nacionais.

Hoje adotamos um ambicioso Plano de Ação para o Relançamento da Aliança Estratégica.

São quase 100 ações que dão concretude ao nosso projeto conjunto de desenvolvimento.

Fico muito satisfeito com as perspectivas positivas de financiamento do BNDES à exportação de produtos para a construção do Gasoduto Presidente Néstor Kirchner.

Estamos trabalhando na criação de uma linha de financiamento abrangente das exportações brasileiras para a Argentina.

Não faz sentido que o Brasil perca espaço no mercado argentino para outros países porque esses oferecem crédito e nós não.

Todo mundo tem a ganhar: as empresas e os trabalhadores brasileiros e os consumidores argentinos.

Companheiro Alberto,

Nossas jovens democracias conseguiram, através da luta de militantes políticos, movimentos sociais, estudantis e sindicais, superar um passado de autoritarismo.

Recordo a querida Hebe de Bonafini, que nos deixou no último ano. Que seu exemplo siga nos inspirando a promover e proteger os direitos humanos.

Diante do muito que nossos países alcançaram juntos, não tenho dúvida de que os próximos anos serão de muita prosperidade.

Muito obrigado.

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