Com propostas paliativas para a crise argentina, Massa perde para o anarcocapitalista Milei
Candidato e ministro da Economia do país estagnado, submetido ao FMI sanguessuga e com pobreza atingindo índice de 40%, Segio Massa, que propunha na prática apenas administrar a crise, acabou perdendo por 55,7% a 44,3% para a magia da ‘dolarização’ do fascista autoproclamado anarcocapitalista Milei
O autodenominado “anarcocapitalista” Javier Milei e sua motosserra venceram as eleições de domingo (19) na Argentina, superando o candidato peronista e atual ministro da Economia, Sergio Massa, por 55% a 44%, quase 12 pontos percentuais de diferença. O comparecimento às urnas foi de 75%.
Massa reconheceu a derrota, disse que a democracia argentina é forte e agradeceu à militância peronista, depois de ter telefonado ao vencedor.
Milei, que ficara quase sete pontos atrás de Massa no primeiro turno, reverteu o quadro a partir do apoio da candidata da assim chamada direita tradicional, Patrícia Bullrich, que ficara em terceiro lugar, e de seu mentor, o ex-presidente Mauricio Macri.
Ao contrário das urnas, pesquisas chegaram a indicar um “empate técnico”; houve também avaliações de que Massa vencera o último debate eleitoral obrigatório.
A posse de Milei será em 10 de dezembro, sucedendo o atual presidente Alberto Fernández.
DUBLÊ DE MINISTRO E CANDIDATO
Com o país sob o jugo do FMI, a que fora levado no governo Macri, inflação recorde, escassez de divisas, desvalorização do peso, e elevação da pobreza a 40%, nunca fora fácil para Massa conciliar o papel de candidato peronista com o de ministro da Economia e administrador da crise aguda.
A própria candidatura estava longe, de forma profunda, de expressar a principal vertente do peronismo, a das transformações encabeçadas por Néstor, e continuadas por Cristina Kirchner. Na eleição de Macri, foi a candidatura avulsa de Massa que acabou dividindo os votos peronistas e viabilizando a vitória do candidato neoliberal, que acabou legitimando os fundos abutres e empurrando a Argentina às garras do FMI.
Massa buscou, agora, convocar o país a um governo de união nacional para sair da crise e se comprometeu com os direitos sociais e com a indústria argentina, mas sem se comprometer com as profundas transformações que o país reclama.
VOTO DO CONTRA
Mas o resultado eleitoral indica que acabou pesando mais na decisão das urnas a penalização de quem não conseguiu fazer frente à crise econômica em curso; um voto mais contra, do que exatamente a favor, demagogicamente manipulado sob as convocatórias contra a “casta” e o “sistema”.
A dolarização também foi apresentada por Milei como uma solução mágica para a crise econômica e a inflação e foi cultuada com notas gigantes de dólar com o rosto do fascista.
De certa forma, Milei é uma espécie de híbrido de Collor com Bolsonaro, com perspectivas análogas. Ele também gosta de aparentar ser louco; aliás, tem como mentor espiritual seu cão, já morto, de nome Conan. Também é notório por rompantes de fúria e por seus xingamentos.
O partido de Milei, o La Libertad Avanza, é completamente dependente do apoio parlamentar do macrismo, já que sua bancada é de apenas 37 deputados, contra 108 dos peronistas, o maior partido do parlamento argentino. Os macristas, mais os radicais e outras forças de centro-direita, que não necessariamente marcharão juntas, fizeram 93 cadeiras. Para ter maioria na Câmara, são necessários 129 votos. No Senado, os peronistas têm 34 cadeiras, contra 8 de Milei e 24 da direita tradicional. Para ter maioria aí, são preciso pelo menos 37 senadores.
DESESPERANÇA
A baixa estima dos argentinos, sob a crise em curso na Argentina, possibilitou que a candidatura Milei servisse de escoadouro para um esgoto que sobrevivia nas catacumbas desde a derrota da ditadura e da reconstrução democrática. A ponto de Milei não esconder sua ojeriza a tudo que é argentino, de Maradona ao Papa Francisco, e ter como ícone a Margareth Thatcher que governou a Inglaterra no ataque à Argentina para se apossar das Ilhas Malvinas elevando a ocupação militar no Atlântico Sul.
Na análise do economista Alfredo Zaiat, no Página 12, o governo Milei “inaugurará outro período de desmantelamento do tecido socioprodutivo, uma avaliação que surge dos seus próprios princípios econômicos, os mesmos de Martínez de Hoz, Menem-Cavallo e Macri”, com suas mazelas, o “industrialicídio” e o desemprego. Ele previu que “os trabalhadores formais e informais e as empresas nacionais serão lançados no fogo purificador” da abertura comercial, redução do Estado, privatização e corte de direitos.
“INDUSTRIALICÍDIO”
O presidente eleito – registrou Zaiat –, exibindo uma expressão facial semelhante à do Coringa, disse em uma entrevista que “a casta são os empresários prebendários que quando vou dar uma conferência falam mal de mim, os corruptos do Câmara Argentina da Construção. O problema é que comigo eles vão ter que competir. Ou seja, vão ter que servir a seus vizinhos com bens de melhor qualidade ou melhor preço, ou irão à falência.”
Também resta ver como vão reagir os setores populares, engrupidos por Milei, e que deram a ele seu voto, quando este puser em prática seu plano de privatizar a educação, a saúde e a Previdência social.
Milei também ameaçou romper com o Brasil e com a China, que são os dois principais parceiros comerciais da Argentina e anunciou a intenção de retomar as relações carnais com os Estados Unidos preconizadas pelo desastroso Menem. Nos últimos meses, o apoio da China e do Brasil foi imprescindível para permitir que a Argentina se mantivesse adimplente com o FMI.
BOA SORTE AOS HERMANOS
Sem citar o nome de Milei, o presidente Lula desejou, pelo X (ex-Twitter), boa sorte ao novo governo argentino. “O Brasil sempre estará à disposição para trabalhar junto com nossos irmãos argentinos”, postou Lula. Ele deu “parabéns às instituições argentinas” pela “condução do processo eleitoral e ao povo argentino que participou da jornada eleitoral de forma ordeira e pacífica”.
Milei, ao longo da campanha e, inclusive nos últimos dias, andou se preparando para imitar a cartada de Trump e de Bolsonaro, sobre a “fraude eleitoral”, o que se provou uma empulhação completa.
Para Zaiat, na essência, o “programa” de Milei é o que foi “apresentado em rede nacional no dia 2 de abril de 1976 pelo Ministro da Economia da ditadura militar, José Alfredo Martínez de Hoz. É o mesmo programa aplicado na década de noventa durante o Menemismo e retomado em 2015-2019 pelo Macrismo”, com os resultados conhecidos, inclusive o famoso voo de helicóptero do presidente Fernando de La Rúa, sem volta, saindo da Casa Rosada em meio à ira popular.
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